A ecografia já se integrou como componente fundamental do diagnóstico, tratamento, mapeamento pré-operatório, e seguimento das estenoses localizadas nas artérias carótidas extracranianas1-10. Inicialmente, na década de 1980, a ecografia duplex contribuiu para a seleção de pacientes candidatos à arteriografia radiográfica com contraste endovenoso, método tradicional para planejamento da endarterectomia carotídea. Alternativas protocolares foram surgindo à medida que trabalhos científicos demonstraram a capacidade da ecografia – não invasiva e de baixo custo – de substituir um método invasivo, de alto custo, e passível de complicações clínicas para o paciente. A ecografia não invasiva inclui vantagens adicionais além da luminografia – estudo da luz do vaso em imagem longitudinal apresentada pela técnica radiográfica da arteriografia. A ultrassonografia também ilustra a luminografia transversal, as velocidades de fluxo e a visualização direta do ateroma. Nesta evolução, a combinação da ecografia com a arteriografia radiográfica ou, mais recentemente, com a arteriografia por ressonância magnética11 ou mesmo tomografia computadorizada, criou uma filosofia de exames duplos com primeira e segunda opinião para planejamento do tratamento carotídeo.
Uma alternativa inusitada foi o projeto de um protocolo de dois exames ecográficos independentes: o primeiro como teste diagnóstico e o segundo como mapeamento pré-operatório1. Tal mapeamento pré-tratamento coleta informações detalhadas que facilitam a cirurgia carotídea, mas que não são essenciais para o protocolo de diagnóstico definitivo. Este trabalho analisa os resultados obtidos pelo mapeamento ecográfico das artérias carótidas em pacientes candidatos a endarterectomia devido a sintomatologia, critérios de risco e/ou ecografia diagnóstica prévia. Os valores das medidas que facilitam a cirurgia carotídea variam entre indivíduos, justificando o mapeamento pré-operatorio.
A prática cirúrgica toma em consideração diferenças individuais. Uma questão sempre em pauta refere-se a diferenças entre os gêneros feminino e masculino. Os objetivos deste estudo foram calcular estatísticas descritivas das variáveis ultrassonográficas e abordar a questão de quais seriam as diferenças observadas entre os gêneros. As hipóteses nulas testadas referiram-se aos testes de igualdade ou potencial desigualdade devido ao gênero, das variáveis ultrassonográficas incluídas no mapeamento pré-tratamento.
Métodos
Os critérios de inclusão e exclusão neste estudo, as características da população amostrada, os métodos ecográficos de mapeamento da bifurcação carotídea extracraniana, e a análise estatística empregada são descritos nesta seção. A ética médica de não identificação dos pacientes foi seguida rigorosamente neste relatório de dados clínicos. O relacionamento ético médico-paciente foi seguido de acordo com as normas vigentes no laboratório vascular não invasivo.
Sem dados prévios para uma estimativa apropriada do tamanho da amostra comparativa, o número de casos incluídos baseou-se em publicações internacionais de valor clinico12,13. Uma técnica de estudo sequencial foi aplicada para determinar o número de casos suficientes. A análise estatística obtida após inclusão de 500 casos mostrou diferenças significativas, justificando a publicação dos achados sem continuação do recrutamento de dados adicionais.